Em tempos de pandemia: Ensino hibrido ou Modelo hibrido de ensino?

Temos observado, com certa preocupação, a confusão que se tem feito nas redes de ensino públicas e privadas sobre forma de implementação e organização do ensino nestes tempos de pandemia. Algumas redes tem dado nomes “bonitinhos” ou “da moda” para caracterizar os modelos “Frankenstein” implementados em suas redes.

Chamamos de modelos “Frankenstein” este modelo em que se tem tentado adaptar referencias a várias modalidades e metodologias de ensino ao chamado “Ensino Remoto”. E a confusão com o Ensino Híbrido é uma das mais comuns.

O que é Ensino Hibrido?

Ensino híbrido é a metodologia que combina aprendizado online com o offline, em modelos que mesclam (por isso o termo Blended, do inglês “misturar”) momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual, com outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial, valorizando a interação entre pares e entre aluno e professor.

Normalmente, a parte presencial pode ou não contar com recursos tecnológicos. Nessa etapa, o professor ou tutor se torna responsável por propor atividades que valorizem a interações interpessoais. Aqui, o professor pode propor trabalhos que envolvam toda a turma ou pode dividi-la em grupos menores para a realização de projetos.

Já a parte do ensino realizada com o auxílio de recursos digitais permite que o aluno tenha controle sobre onde, como, o que e com quem vai estudar. Nesse sentido, os dispositivos móveis, como tablets e celulares, e a facilidade de utilizá-los em diferentes ambientes abriu o leque de possibilidades sobre onde esse componente pode ser desenvolvido: dentro da própria sala de aula, na biblioteca, no laboratório de informática e até em casa.

Apesar de serem momentos diferentes, o online e o presencial, o objetivo do aprendizado híbrido é que esses dois momentos sejam complementares e promovam uma educação mais eficiente, interessante e personalizada.

Dentro do Ensino Hibrido podemos destacar diversas Modalidades, conforme a característica de cada uma delas:

Modalidade Rotacional:
Os estudantes revezam as atividades realizadas de acordo com um horário fixo ou conforme orientação do professor que está em sala. As atividades envolvem: discussões em grupo, atividades escritas, leituras e, necessariamente, uma atividade usando recursos educacionais digitais.
Modalidade Flex:
Os alunos também têm uma lista a ser cumprida, com ênfase na aprendizagem on-line. O ritmo de cada estudante é personalizado e o professor fica sempre à disposição para esclarecer dúvidas. Apesar desse modelo fazer parte do Ensino Hibrido ele requer uma modificação quanto a estrutura e organização do ambiente e dos alunos. Nessa proposta os alunos podem aprender de forma colaborativa, uns com os outros através de recursos on-line, independente da organização por anos ou séries
Modalidade A la Carte:
Nesse modelo o estudante é responsável pela organização de seus estudos, de acordo com os objetivos gerais a serem atingidos, organizados em parceria com o educador; a aprendizagem, ocorre em locais e momentos considerados mais adequando e, portanto, é personalizada. Nessa abordagem, pelo menos uma disciplina é feita inteiramente online.
Modalidade Virtual Enriquecido:
Nesse modelo os alunos dividem seu tempo entre a aprendizagem on-line e a presencial. Os alunos podem se apresentar, presencialmente, na escola, apenas uma vez por semana.

Agora sabendo que pode ser considerado como Ensino Hibrido, voltemos ao tema desse artigo, o que temos visto sendo aplicados na prática poderia ser enquadrado integralmente no que está padronizado como Ensino Hibrido?

Não, no máximo, podemos considerar os modelos atualmente adotados como emaranhado, ou colcha de retalhos, de práticas tradicionais de ensino colocadas em pacotinhos para entregas por meio digital, sem um modelo claro de acompanhamento e avaliação da aprendizagem dos alunos e, muitas vezes, descontextualizado das necessidades de aprendizagem destes, entregando conteúdos aleatórios sem um planejamento estratégico como redes de ensino de como entregar esse conteúdo, como avaliar sua efetiva realização pelo aluno e se a atividade proposta foi efetiva no processo de aprendizado deste.

É preciso repensar a prática docente nestes tempos de pandemia, sairmos das caixinhas em que estamos acostumados a dividir o processo educacional:

  1. Caixinha da Escola: Tratar cada escola como sendo um ser único e independente de uma rede de ensino e não como parte de um organismo maior, especialmente, na Rede Pública de Ensino, em que os sujeitos transitam por todas as partes de organismo, trocando de escolas e muitas vezes de redes de ensino, duas ou mais vezes por ano.
  2. Caixinha da Turma: os alunos podem aprender com o outro, especialmente, com os próprios colegas, as atividades não precisam necessariamente estarem divididas por turma/escola, os conteúdos podem extrapolar a caixa da turma de um determinado professor, mesma disciplina pode estar disponível para todos os alunos de uma determinada série de toda uma rede de ensino, e não individualmente, um bom professor de uma determinada disciplina poderia estar presente em toda a rede, entregando um conteúdo de qualidade para todos os alunos da rede e não somente para “sua turma”.
  3. Caixinha da Disciplina: Conteúdos transversais e transdisciplinares podem estar presentes nas aulas, de forma que possa contextualizar em seu cotidiano o que está sendo estudado na escola. Uma mesma pode trazer conteúdos de diversas disciplinas ao mesmo tempo, e cada disciplina pode aproveitar pra avaliar os conteúdos que lhe é conveniente.
  4. Caixinha da “semana de provas”: a avaliação precisa ser contínua, e não somente na “semana de provas”, toda a atividade desenvolvida pelo aluno pode ajudar no processo avaliativo, e essa avaliação precisa ser constante, a cada etapa, a cada conteúdo abordado. Para que, se necessário, o assunto possa ser retomado com os alunos que apresentarem alguma dificuldade no aprendizado.
  5. Caixinha da “Carga horária da turma”: não limitar o trabalho do professor a caixinha da turma, irá abrir um leque de possibilidades para que essa caixinha também não fique fechada. Um professor que tenha carga horária total na rede de vinte horas, poderá dedicar essas horas para atender qualquer aluno que tenha dificuldades naquela disciplina ou série, e não apenas a carga horária das turmas em que ele está designado.

Repensar o que estamos fazendo é algo essencial nesse momento, redirecionar nossos esforços para o que realmente importa, o aprendizado de nossos alunos, é primordial antes que seja tarde demais.

Por Jocemar do Nascimento – Diretor Pedagógico da Edubot – Sistema de Ensino em Cultura Digital; Pedagogo, especialista em Novas Tecnologias na Educação e EAD; Coordenador Regional do Programa Educação Conectada para a Região Sul UNDIME/MEC.

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